sexta-feira, 13 de maio de 2016

Paralelos

Estou aqui, mais uma vez, escrevendo uma carta que você não vai ler. Ninguém leria.
Queria dizer o quanto sinto a falta. Me calaria?
Falei tudo que meu coração pediu naquele último encontro. Foi desencontro.
Mas o desconforto ainda segue meu caminho. Feito espinho.
Tudo à seu respeito eu apaguei, mas memória é uma coisa que na lata não cabe, sabe?
O tempo é interessante. Fala de duração ou sensação.
No meu caso, ele não quis conversa e passou com pressa.
E aqueles nossos olhares, de alguma forma, não tinham medida.
Os abraços não falavam de despedida.
Mas naquele instante a saudade passou a ser desmedida.
E voltando a essas linhas paralelas, não consigo mais falar de uma ligação ondular.
E o que pareceu ser tudo o que cabia ser no tempo dado, foi na verdade um pedaço de história perdido num caminho mal traçado.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Capítulo 4 : Viajante

Ela já havia aberto a porta para vários viajantes.
Uns procuravam um lugar seguro para dormir por uma noite, outros só buscavam a sombra fresca que a alma dela proporcionava.
Até que num dia sem nuvens, ela resolveu sair sendo ela a forasteira.
Ela sempre fora o lar dos que chegavam, mas nunca encontrou lar para si.
Dentre tantas esquinas e vielas, achou um beco solitário e vazio.
Quem haveria de encontrar conforto ali?
Mas de alguma maneira ela gostava era do esquecido. Da poesia no vazio, onde achava verdade no silêncio.
Ali parada, observando vento passar lha fazendo carícias no rosto.
Alguém se aproximou, ela se assustou ao vê-lo.
Sabia e sempre tinha ouvido falar para não julgar o livro pela capa. Mas ao olhá-lo ela, de alguma maneira, já sabia o conteúdo.
Quando a gente sabe a gente sabe, né?!
Beleza é um negócio complicado.
Quando alguém diz que te acha bonita, faz um bem danado pro ego. Mas, ao mesmo tempo, escutar isso deve ser um porre.
Afinal há muito mais por dentro, poxa!
E ela precisava saber o que ele era além.
Como faria? Falar com alguém assim não é nada fácil.
Principalmente com aquela sensação.
De que já se conhecem. De um outro lugar, um outro tempo, outro momento.
Se sentir tão conectado com outro era estranho, causava arrepios.
Normalmente ela era quem se molhava na chuva enquanto fornecia abrigo para quem chegava.
Mas aquele dia tinha sido quente.
Tinha sol e ela havia aberto as janelas quando saiu.
Naquele momento o sol havia acabado de se pôr e ela ainda estava lá. Parada. Com seus óculos escuros. Olhando.
Ele continuou andando ao encontro dela.
Um sorriso.
Ela olhou e ele sorriu.
Rápido.
Desviou para o lado e olhou mais uma vez pra ela. Sorriso.
3 segundos se passaram desde o primeiro olhar, ela não sabia para onde ele estava indo. Volte aqui! O coração gritava.
Quando deu por si, ele segurava a mão dela. Respiração curta e frio na barriga.
Ele disse: Bem-vinda ao lar.
Tire os sapatos, desarrume suas malas, seu lugar está em mim.

sábado, 29 de agosto de 2015

Capítulo 3: A chegada das borboletas

Ela era menina, aliás, ainda é. Mas sabia que as bonecas já não seriam mais suas companheiras. Sentia coisas diferentes agora. Seu olhar sobre a vida era ainda mais doce.
E por esses dias, um primo chegou até ela e disse que toda menina deve "gostar" de alguém. Como assim? Ela já gostava, ué! Seus pais, suas avós, sua família. Todos eles eram amados por ela.
- Mas menina! - Disse ele - Não é desse gostar que estou falando. É gostar de namorar.
E como gosta assim? Ela ficava se perguntando.
 - Todo mundo tem que gostar assim um dia e olha lá, aquele meu amigo gosta de você! - De novo o primo querendo dar mais uma função pro coração dela.
Nossa menina se viu nos olhos dele e sentiu um apertinho na barriga e no peito. E era bom. É daqueles incômodos que confortam. Mal sabia ela que naquele momento uma pequena borboleta passou a habitar seu estômago, abrindo caminho para várias outras que fariam morada naquele lugar.
E para desventura de nossa pequena, aquele menino não estava interessado. Tudo não passou de uma brincadeira de seu primo ainda garoto.
E o que ela faria com aquela borboleta no estômago? Porque gostar de alguém é função do coração, mas esquecer, não. Isso é tarefa pra nossa cabecinha, que aliás é nossa em termos: tem coisa lá dentro que sisma em funcionar por conta própria, sem dar satisfação. Quase a sufocou de solidão. Não queria saber mais desse papo de querer, mas não encontrava caminho de volta. Descobriu ali que ela foi feita de amor, por isso, só sabia amar. Qualquer um que chegasse depois daquele episódio ia descobrir isso.
Nessa brincadeira de gostar ela descobriu que é muito comum subestimarmos o poder de um toque, um sorriso, uma palavra gentil, um ouvido atento, um elogio honesto ou um ato de carinho. E que todos eles podem sacudir uma vida.
Não vou te dizer que o caminho que o coração dela trilhou foi cheio de flores, até porque com o dedo podre que essa menina tem, ainda tem sorte de ter um coração pra chamar de seu.
Porque ela, ela sempre foi de se jogar com vontade. E quando tudo acabava seu mundo se reconstruía com a mesma rapidez em que fora desfeito. Porque nisso tudo, ela aprendeu que é gratificante encontrar alguém de quem a gente goste, mas é essencial gostar de si mesmo.
E as borboletas de seu estômago? Ainda estão lá. Esperando pelo dia em que virão parar aqui e contar suas histórias dos tantos tipos de amor quanto um coração de menina pode guardar.

sábado, 22 de agosto de 2015

Capítulo 2: Olhos castanhos

Fica aqui um espaço pra conhecermos nossa menina.
Uma menina com o coração nas nuvens e a cabeça no coração. Sempre acreditou na humanidade apesar de saber que o ser humano vai mal.
Ansiedade é o sobrenome dela. Nunca soube esperar por nada. Desde água fervendo até alguém decidir amá-la. Sempre foi assim, ou chega e já gosta dela ou não dá mais.
Não é de personalidade forte, mas é decidida.
É a menina, que foi criada pra ser mulher.
Ela é um diagnóstico que muda para sempre a vida de todos que por ela são atingidos, sejam pacientes ou não por/com ela.
Nossa menina é uma moça de poses delicadas, sorrisos discretos e olhar misterioso.
É de se apaixonar. Com toda vontade. Como o mar é tão apaixonado pela areia que manda suas ondas para lhe tocarem a cada momento de forma diferente.
Ela tem olhos castanhos, tão profundos e tão transparentes que as emoções passam por lá como em uma TV à cabo. É possível saber o que se passa em seu coração só em assistir o que está passando na programação do seu olhar.
Ela tem cara de menina mimada, seus amigos dizem até que tem um quê de esquisita ( E ela gosta tanto disso, os "normais" dão medo nela), tem sensibilidade de flor apesar de não chorar com facilidade, chove dentro dela toda vez que se magoa. Ela tem um toque de intuição e um tom de doçura.
Desde pequena, sabe que o melhor de cada um é ser cada um. Do jeitinho que deve ser. Mundos diferentes e totalmente lindos. Curiosidade e questionamentos sempre fizeram parte da sua personalidade.
É tão tímida que você não acreditaria. Quem olha de perto diz que ela reflete lilás, tem os medos mais bobos, insegurança de fazer querer dar as mãos a ela. Tem inquietude e solidão de artista. Só sabe sentir com o coração que, aliás é muito bobo e sempre é capaz de acreditar outra vez. Essa história vai contar mais sobre segundas chances que a mudaram de forma marcante. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e o gosto ácido de mulher moderna.
Você pode se encontrar nela ou não. O que os olhos castanhos dela te dizem é que você deve tentar..

sábado, 15 de agosto de 2015

Capítulo 1: Na rua da frente

Era uma menina, filha única, família bem presente e cautelosa. Desde sempre teve que dar seu jeito e criar em seu espaço toda uma história para sua infância. Não que fosse ruim, mas era solitário.
Ela não se importava, fazia e sempre fez da solidão sua melhor companheira. Nela, ela era quem queria ser, sem que ninguém se atrevesse a dizer o contrário.
Mas olha só, em um dia da semana,  deixava o mundo que era seu, com suas construções mirabolantes entre um lençol e quatro cadeiras na garagem para estar no meio de outras crianças, que como ela, tiravam do mais simples da vida aquilo que só a cabeça da criança pode fornecer: felicidade genuinamente sincera na simplicidade.
Eu disse pra vocês que ela era filha única, mas tinha irmãos. Pois é. Chamava eles de primos. E quantas histórias.
Ela lembra de correr na rua até não aguentar mais e depois de jogar no colo da vó querendo cafuné. Ela lembra que sendo menina, nunca teve problemas em se meter no "jogo dos meninos". Era a primeira a jogar bola de gude e sempre ser a última a virar papa. Não tinha talento nenhum, confessa, mas gostava de estar entre eles. E as competições de bicicleta eram sempre as mais doídas. Tinha machucado pra dar e vender e sorriso no rosto e no coração pra não trocar por nada nesse mundo..
E ela contava os dias para que pudesse estar com seus irmãos. Fosse na chuva, lama, pedras, areias, ralados, choros, puxões de cabelos, broncas da avó, bolas perdidas morro abaixo, pipas dos primos avoadas, beliscões e mordidas de amor, abraços suados e vitórias em jogos coletivos
Por mais que boa parte do seu tempo ela ficasse no meio de adultos, não se sentia só. Sabia que na rua da frente sempre teria quem inventasse mil loucuras com ela
Na rua da frente ela aprendeu a ser mais ela. A não trocar os prirmãos por nada, porque apesar de todas as brigas entre ele sempre estiveram lá um pelo outro quando ficava ruim. Aprendeu com os joelhos marcados, que só tem história quem tem cicatriz. E só tem boas recordações de infância quem as viveu com pessoas extraordinárias.

domingo, 9 de agosto de 2015

Leve-me contigo ou perca-se comigo

"Me responde uma coisa: Se a gente ficasse cego continuaríamos julgando as pessoas pela aparência? É uma pena que não se possa arrancar os olhos e parar de sair julgando as pessoas por aí. Deve ser muito difícil ter tudo por inteiro, nada pela metade" Guilherme de Sá

É que a vida passa, sabe?! E rápido. Ou você aprende a amar cada pessoa que está do seu lado pralém do físico ou você perde a chance de ser amado de modos diferentes.
Não perca a chance de ser uma pessoa diferente a cada encontro com o outro.
Cada pessoa é um mundo novo a ser conhecido. Não vê beleza nisso?
Cada encontro seu com alguém te tira um pouquinho de si e injeta um pouquinho dele em você. Ainda não consegue ver?
Apenas uma conversa com um desconhecido em qualquer momento da sua vida coloca em você um pouquinho do mundo dele, mesmo que seja pra rejeitá-lo. Viu agora?
Então feche os olhos.
Tente moldar sua visão. Afinal, não é ela um dos cinco sentidos no ser humano responsáveis por nos aprimorar a percepção do mundo?
Que a importância esteja no teu olhar, não naquilo que olhas.
Refletir é olhar, é se aprofundar na ideia ou pensamento, é esclarecer. Refletir é o além da pessoa ou pensamento.
Que a importância esteja no teu olhar, não naquilo que olhas.
Sua visão do mundo a sua volta é apenas um reflexo do que acontece no seu coração.
Ame e quando sentir dúvidas, ame um pouco mais.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Sentidos

Sinto tanto a sua falta que você não tem noção.
Sinto falta de te falar sobre tudo e sobre nada.
De rir até a barriga doer e logo depois falar sobre as coisas sérias da vida, sem perder a leveza.
Sinto falta de ser a amiga que você sempre tentou afastar por medo, mas ainda assim me queria por perto. Me dizia que eu te fazia sentir melhor.
Sinto falta de como eu me sentia ao seu lado e dos nossos olhares cúmplices.
Sinto que talvez eu te senti uma pessoa diferente do que é.
Mas só sei sentir assim, com intensidade.
Sinto falta da amizade que cresceu sem compromisso e que foi criando espaço em mim sem pedir licença.
Sinto que tenha se afastado e que eu não tenha ganhado tanto a sua confiança pra poder estar do seu lado agora.
Sinto se estiver sentindo algo ruim, porque gostaria que não sentisse.
Sinto que já te conheço uma vida toda mesmo só estando nela a pouco mais que um ano, também sei que sentes muito.
Entre tantos sentidos e sentimentos, nos esbarramos e fomos a polos distantes.
Sinto não poder mais insistir porque não faz mais sentido.
Aquilo que um dia senti, ainda sinto. Talvez até maior.
Mas desde o inicio meus sentidos me avisaram que quem sente intensamente e não está em paralelo com o outro, uma hora acaba sentindo muito.