sábado, 15 de agosto de 2015

Capítulo 1: Na rua da frente

Era uma menina, filha única, família bem presente e cautelosa. Desde sempre teve que dar seu jeito e criar em seu espaço toda uma história para sua infância. Não que fosse ruim, mas era solitário.
Ela não se importava, fazia e sempre fez da solidão sua melhor companheira. Nela, ela era quem queria ser, sem que ninguém se atrevesse a dizer o contrário.
Mas olha só, em um dia da semana,  deixava o mundo que era seu, com suas construções mirabolantes entre um lençol e quatro cadeiras na garagem para estar no meio de outras crianças, que como ela, tiravam do mais simples da vida aquilo que só a cabeça da criança pode fornecer: felicidade genuinamente sincera na simplicidade.
Eu disse pra vocês que ela era filha única, mas tinha irmãos. Pois é. Chamava eles de primos. E quantas histórias.
Ela lembra de correr na rua até não aguentar mais e depois de jogar no colo da vó querendo cafuné. Ela lembra que sendo menina, nunca teve problemas em se meter no "jogo dos meninos". Era a primeira a jogar bola de gude e sempre ser a última a virar papa. Não tinha talento nenhum, confessa, mas gostava de estar entre eles. E as competições de bicicleta eram sempre as mais doídas. Tinha machucado pra dar e vender e sorriso no rosto e no coração pra não trocar por nada nesse mundo..
E ela contava os dias para que pudesse estar com seus irmãos. Fosse na chuva, lama, pedras, areias, ralados, choros, puxões de cabelos, broncas da avó, bolas perdidas morro abaixo, pipas dos primos avoadas, beliscões e mordidas de amor, abraços suados e vitórias em jogos coletivos
Por mais que boa parte do seu tempo ela ficasse no meio de adultos, não se sentia só. Sabia que na rua da frente sempre teria quem inventasse mil loucuras com ela
Na rua da frente ela aprendeu a ser mais ela. A não trocar os prirmãos por nada, porque apesar de todas as brigas entre ele sempre estiveram lá um pelo outro quando ficava ruim. Aprendeu com os joelhos marcados, que só tem história quem tem cicatriz. E só tem boas recordações de infância quem as viveu com pessoas extraordinárias.

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