sábado, 29 de agosto de 2015

Capítulo 3: A chegada das borboletas

Ela era menina, aliás, ainda é. Mas sabia que as bonecas já não seriam mais suas companheiras. Sentia coisas diferentes agora. Seu olhar sobre a vida era ainda mais doce.
E por esses dias, um primo chegou até ela e disse que toda menina deve "gostar" de alguém. Como assim? Ela já gostava, ué! Seus pais, suas avós, sua família. Todos eles eram amados por ela.
- Mas menina! - Disse ele - Não é desse gostar que estou falando. É gostar de namorar.
E como gosta assim? Ela ficava se perguntando.
 - Todo mundo tem que gostar assim um dia e olha lá, aquele meu amigo gosta de você! - De novo o primo querendo dar mais uma função pro coração dela.
Nossa menina se viu nos olhos dele e sentiu um apertinho na barriga e no peito. E era bom. É daqueles incômodos que confortam. Mal sabia ela que naquele momento uma pequena borboleta passou a habitar seu estômago, abrindo caminho para várias outras que fariam morada naquele lugar.
E para desventura de nossa pequena, aquele menino não estava interessado. Tudo não passou de uma brincadeira de seu primo ainda garoto.
E o que ela faria com aquela borboleta no estômago? Porque gostar de alguém é função do coração, mas esquecer, não. Isso é tarefa pra nossa cabecinha, que aliás é nossa em termos: tem coisa lá dentro que sisma em funcionar por conta própria, sem dar satisfação. Quase a sufocou de solidão. Não queria saber mais desse papo de querer, mas não encontrava caminho de volta. Descobriu ali que ela foi feita de amor, por isso, só sabia amar. Qualquer um que chegasse depois daquele episódio ia descobrir isso.
Nessa brincadeira de gostar ela descobriu que é muito comum subestimarmos o poder de um toque, um sorriso, uma palavra gentil, um ouvido atento, um elogio honesto ou um ato de carinho. E que todos eles podem sacudir uma vida.
Não vou te dizer que o caminho que o coração dela trilhou foi cheio de flores, até porque com o dedo podre que essa menina tem, ainda tem sorte de ter um coração pra chamar de seu.
Porque ela, ela sempre foi de se jogar com vontade. E quando tudo acabava seu mundo se reconstruía com a mesma rapidez em que fora desfeito. Porque nisso tudo, ela aprendeu que é gratificante encontrar alguém de quem a gente goste, mas é essencial gostar de si mesmo.
E as borboletas de seu estômago? Ainda estão lá. Esperando pelo dia em que virão parar aqui e contar suas histórias dos tantos tipos de amor quanto um coração de menina pode guardar.

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